Nesta comunicação, evocaremos o duplo trabalho de memória empreendido por Doris Salcedo, no plano social e artístico, assim como para os processos políticos que tornam determinadas vidas mais precárias que outras e, consequentemente, não passíveis de luto. Para tanto, além de Schibboleth, analisaremos outras duas instalações da artista colombiana, a saber: Palimpsesto (2017-2018), obra em que a dimensão transnacional da imigração é tematizada por meio do estabelecimento de vínculos entre passado e presente, colonialismo e migração; e, Sem título, apresentada na 8ª Bienal de Istambul em 2003, em que Salcedo discute o problema dos deslocamentos forçados. Ao rememorar vidas que raramente são choradas socialmente, Salcedo transforma tanto os museus (Tate Modern e Reina Sofia) quanto o terreno vazio no centro de Istambul em verdadeiros lugares de memória. A presença e os objetos visuais em seu trabalho nunca tentam encobrir o vazio e o silêncio deixados pelas guerras e pela violência generalizada, almejam antes tornar visível a perda relacionando a experiência rememorada e o lugar de sua reaparição. Ao escutar e transmitir histórias traumáticas da violência na Colômbia, a artista elabora formas de traduzir a herança do modernismo europeu e norte-americano em seu trabalho ao passo que encontra meios de confrontar diferentes experiências de violência política. Portanto, buscaremos mostrar que ao invés de erguer monumentos, Salcedo funda espaços de negatividade que passam a ser lembrados pelo que neles falta ou pela cicatriz que neles subsiste. Assim, a artista substitui a linguagem codificada dos xiboletes pelo silêncio do luto.
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